A CRÔNICA ARGUMENTATIVA
“O cronista do jornal é como
cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha e vai” (Rubem
Braga)
Conceituação
A característica mais relevante de
uma crônica é o propósito com que ela é escrita. Seu eixo temático é sempre em
torno de uma realidade social, política ou cultural. Essa mesma realidade é
avaliada pelo autor da crônica e uma opinião é formulada, quase sempre com um
tom de protesto ou de argumentação. Por vezes, assume um tom até mesmo
sarcástico, no intento de criticar ou revelar as mazelas sociais. A
crônica argumentativa é aquela na qual o objetivo maior do cronista é relatar
um ponto de vista diferente do que a maioria consegue enxergar.
Características
·
Apresentação do assunto ou controvérsia a ser discutida, normalmente, no
início do texto;
·
Tratamento subjetivo do tema, deixando perpassar a sensibilidade e as
emoções do cronista;
·
Linguagem criativa e figurada, geralmente de acordo com o padrão culto
informal da língua.
·
A crônica argumentativa visa a apresentar a opinião do autor, sem
obrigatoriamente buscar convencer o leitor.
·
Exposição de argumentos que fundamentam o ponto de vista do autor;
·
Conclusão surpreendente, criativa, ou conclusão-síntese, que retoma as
ideias do texto e confirma o ponto de vista defendido.
Fonte: http://ideiaspraticasparasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/proposta-de-redacao-cronica.html
PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL – Crônica argumentativa
Jovens da periferia, porém
vestidos com roupas de marca, ganharam o noticiário nacional e até
internacional nos últimos dois meses. O motivo foram os chamados
"rolezinhos", passeios por shoppings centers combinados pela internet
e que chegaram a reunir mais de mil jovens em uma das ocasiões. O grande
movimento chamou a atenção de quem estava no local e dos lojistas que,
assustados, chamaram a polícia. A partir de então, começou o debate: afinal, ir
ao shopping EM GRUPO é crime? O bando de jovens que se veste de forma parecida
e ouve funk nos corredores dos centros comerciais ameaça a segurança de
consumidores e lojistas? Assim que ganhou o noticiário, os rolezinhos se
tornaram polêmicos. E, ao mesmo tempo, se multiplicaram pelo Brasil. Em alguns
casos, a justiça autorizou a proibição dos rolezinhos. Em outros, os shoppings
não ganharam o direito de barrar os grupos. Para solucionar o impasse,
cogita-se até mesmo levar os rolezinhos para outras áreas.
A PARTIR DA NOTÍCIA ABAIXO, ELABORE UMA CRÔNICA ARGUMENTATIVA
SOBRE O TEMA “ROLEZINHOS”, REVELANDO O
SEU PONTO DE VISTA SOBRE ESSA PRÁTICA TÃO DISCEMINADA ENTRE OS JOVENS
ATUALMENTE.
Fonte: http://vestibular.brasilescola.com/banco-de-redacoes/
SUGESTÕES
1. Escolha uma situação do seu dia a dia que possa subsidiar
seus argumentos.
Siga
o roteiro:
- Pense nas personagens, ou seja, nas pessoas do seu dia a
dia que farão parte da sua história.
- Pense em um cenário atual, de preferência urbano.
- Lembre-se: o acontecimento que você presenciou é apenas
uma inspiração. Você pode inventar alguns trechos e exagerar em outros caso
queira deixar seu texto com mais humor.
2. Escreva sua crônica e depois revise a pontuação,
prestando atenção na forma de organizar os diálogos. Use períodos curtos em cada parágrafo.
3. Seu texto precisa ter no mínimo 15 linhas.
4. A linguagem pode ser informal ou padrão – evite a
inadequações na ortografia.
Leia os textos abaixo para embasar as suas reflexões.
1. Shoppings do país se preparam para onda de rolezinhos.
2. Desce a letra - Rolezinho
3. Fantástico - Rolezinho
4. Rolezinho, a profecia
do presente
Por Carlos Castilho em 18/01/2014
Há 18 anos,
o sociólogo italiano Alberto Melucci já dizia em seu livro Challenging Codes
(Desafiando os Códigos, sem tradução para o português): “Os movimentos sociais
contemporâneos são símbolos de mudanças que ainda não aconteceram... eles [os
movimentos] falam antes do seu conteúdo, direção e organização serem
conhecidos... são profetas de algo que já está acontecendo mas que não
conseguimos identificar” (Challeging Codes, Introduction).
As ideias de
Melucci, o primeiro grande teórico das ações coletivas na era digital,
tornaram-se palpáveis quase duas décadas depois de terem sido publicadas e são
uma evidência chocante de como a nossa imprensa e os nossos governantes foram
incapazes de “ler” as mudanças em curso na sociedade. Pedir que os políticos leiam
Melucci talvez seja demais, levando em conta a dimensão da cultura da maioria
deles, mas os formadores de opinião na mídia não podem ficar reféns da agenda
imediatista dos governantes.
O fenômeno
do “rolezinho”, que tanta celeuma está provocando na imprensa, é algo
previsível há tempos por quem observa o surgimento de ações coletivas sem
líderes e nem heróis. Há quase 20 anos já está mais ou menos claro, desde a
queda do Muro de Berlim, que o divisor de águas deixou de ser
polÍtico/partidário para se tornar cultural. Além disso, a era digital acabou
com as fronteiras físicas e reduziu as econômicas, pelo menos no segmento
urbano. Por isso, quando os jovens da periferia das cidades invadem os
shoppings, eles estão simplesmente seguindo a tendência da nova sociedade sem
fronteiras, como prega o anúncio da operadora de telefonia celular Tim. Para
quem procura entender as mudanças pelas quais estamos passando, o rolé é algo
absolutamente natural e até inevitável.
Quem se
assusta e alimenta, na imprensa, a teoria do medo, somos nós que não entendemos
ou não queremos entender o que está acontecendo entre os jovens, um segmento
social que só agora está rompendo fronteiras como as dos shoppings, descritos
pela publicidade como templos de consumo. A classe média se apropriou dos
shoppings e os transformou em bunkers da sociedade afluente, achando que as
fronteiras econômicas e sociais seriam eternas.
Agora os
jovens, que já nasceram na era digital, portanto não têm o mesmo respeito por
barreiras como a geração anterior, entram nos shoppings não para comprar, mas
para compartilhar o templo do consumo, alegando ter os mesmos direitos ao ar
condicionado, praça de alimentação, cinemas e lan houses. O imaginário da
classe média os associa a vândalos e aciona imediatamente o gatilho da
repressão, o que não resolve o problema, mas aumenta ainda mais o desejo
adolescente de derrubar fronteiras.
A imprensa
está perdida no meio da polêmica, que na verdade tem um lado só: o da classe
média, porque os adeptos do rolezinho não estão nem aí. O território deles é o
das redes sociais e da internet. Como a maioria das pessoas que compram e leem
os jornais e revistas é da classe média assustada, é inevitável que a mídia se
preocupe mais com este segmento social, mas isso leva ao beco sem saída de
olhar para trás, ignorando as profecias do presente.
Se a
imprensa estivesse consciente de seu papel, ela estaria hoje tentando ajudar
seus leitores, ouvintes e telespectadores a entender o que está acontecendo não
com base na intensificação do medo e consequentemente da repressão, mas na
análise das consequências das mudanças sociais geradas pela era digital. É
urgente que a mídia perceba que estamos no meio de uma transição de modelos tão
radical quanto a que ocorreu após a invenção da imprensa, seis séculos atrás.
Adaptando o famoso bordão da campanha presidencial de Bill Clinton nos Estados
Unidos, em 1992, (“It’s the economy, stupid”) para os tempos de rolezinho,
teríamos: “É a história, estúpidos”.
5. Os
“rolezinhos” e um apartheid à brasileira
Por Wagner Iglecias e Rafael
Alcadipani, no GGN
Junto com alguns outros
shoppings da capital, o Shopping JK Iguatemi, um dos templos do consumo de luxo
em São Paulo, conseguiu uma liminar na Justiça impedindo o “rolezaum” que havia
sido marcado pelas redes sociais para acontecer no local neste sábado. As
portas automáticas que dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e
passaram a ser blindadas por policiais. Houve, ainda, a presença de um oficial
de justiça na porta do estabelecimento. Caso o organizador do evento aparecesse
e fosse reconhecido, seria conduzido a um distrito policial para
esclarecimentos, segundo declarou à Veja SP o oficial de justiça. A situação
estapafúrdia foi amplamente divulgada pela imprensa.
Em outro shopping, bem
mais popular e localizado no extremo leste da cidade, a PM chegou a usar bombas
e balas de borracha. Na prática, o Estado tem usado a força para impedir o
sagrado direito de jovens pobres e da periferia de ir e vir. Os chamados
“rolezinhos” estão sendo agendados por jovens e adolescentes destes bairros
mais distantes por meio das redes sociais, e têm despertado o medo de
comerciantes e frequentadores habituais dos shopping centers. Os primeiros
rolezinhos aconteceram em shoppings da periferia, e a presença de seguranças e
policiais também ocorreu. A ação deste final de semana seria mais marcante,
pois fora escolhido um dos shoppings frequentados pela elite paulistana,
localizado no caríssimo bairro do Itaim, um dos que mais concentra
investimentos públicos e privados em toda a cidade. Vale lembrar que shoppings
centeres ocuparam as páginas policiais dos jornais recentemente por suposto
envolvimento em esquemas de propina para ter seus projetos aprovados
As portas automáticas que
dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e passaram a ser blindadas por
policiais (Reprodução)
A expedição de uma
liminar, embora compreensível sob o ponto de vista daqueles que temiam a
chegada de centenas ou milhares de frequentadores, digamos, “diferenciados”,
escancara o que todos neste país sabemos mas muito poucas vezes falamos: apesar
dos avanços institucionais e legais que o Brasil conheceu desde a
redemocratização, alguns brasileiros são mais cidadãos do que outros. Alguns
espaços são mais exclusivos do que outros. E o consumo, ainda que cantado em
prosa e verso como motor da sociedade e supra-sumo da felicidade e da
realização pessoal, não é, evidentemente, para todos. É estranhíssimo ver empresários
buscando a ajuda do Estado, ainda que seja para obter uma simples liminar com o
objetivo de impedir a diversificação de sua própria carteira de clientes.
Afinal de contas, a elite brasileira é capitalista ou não?
Essa garotada que hoje
tenta frequentar os shoppings nasceu na década de 1990, quando o discurso
neoliberal já era hegemônico em nosso país. Cresceram ouvindo dia e noite que
política é ruim e que o sucesso é uma conquista individual. Comprados o tênis
de marca, o relógio da moda, o celular de última geração, o rolezinho no
shopping é o top da ostentação dos que vem de baixo, da base da pirâmide
social. E ai encontram o que? As portas fechadas. A porta na cara da molecada
de pele marrom é o outro lado da moeda de um país onde uma boa parte da elite
parece ser capitalista somente até a página 2. E que no dia a dia, há séculos,
busca se apropriar, de todas as formas possíveis, do Estado, a fim de dirigir
suas prioridades. Dos vultosos subsídios a setores empresariais ao eterno
chororô contra os impostos, do poderoso rentismo que vive da rolagem da dívida
pública aos editais amigos de obras e serviços públicos, da sonegação fiscal à
domesticação de partidos e candidatos através do financiamento de campanhas
eleitorais.
Fernando Henrique Cardoso
talvez estivesse certo nos seus livros e artigos sobre a dependência
brasileira: nunca tivemos, em nosso país, amplos setores de elite que
trouxessem consigo um projeto de nação, destinado a integrar nos direitos, na
cidadania ou sequer no consumo os milhões de despossuídos. Quando muito nossa
elites têm um projeto de classe, ou nem isso. Ao longo de séculos boa parte
delas contentaram-se em intermediar negócios com os países mais ricos e levar
sua parte, e a polícia que se vire para segurar a massa mulata e preta das
periferias paupérrimas. Sempre foi assim.
Ao lado dessa ignorância
preguiçosa de nossas elites, temos a ignorância adestrada de nossos pobres.
Quando se vê um garoto carregando um fuzil no meio de uma favela, de uma coisa
pode-se ter certeza: ele não quer fazer a revolução e pôr o sistema abaixo.
Pelo contrário, a violência é a forma pela qual pretende acessar e usufruir dos
bens materiais que outros jovens conseguem obter por meios legais ou
aceitáveis. A garotada pobre que se manda em grupos para os shoppings tem o
mesmo desejo. Querem consumir os símbolos de status que de uns tempos pra cá
imaginam ser acessíveis a eles também. Ignoram, no entanto, que ao invés dos
shoppings muito melhor seria se tivessem acesso a teatros, cinemas,
bibliotecas, centros esportivos e de lazer, tão ou mais inacessíveis a eles que
estes ocos templos de consumo.
O “rolezinho” demonstra o
paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas
por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala. A muralha que o
“rolezinho” escancarou é formada por uma Justiça muitas vezes conivente com a
desigualdade social, fato que se expressa em alguns casos como foi em
Pinheirinho e agora nos “rolezinhos”.
Wagner Iglecias é doutor em
Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e
do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.
Rafael Alcadipani é PhD em
Management Sciences pela Manchester Business School (Inglaterra) e Prof.
Adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
6. Charges