quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Redação - Produção de Crônica Argumentativa

A CRÔNICA ARGUMENTATIVA

“O cronista do jornal é como cigano que toda noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha e vai” (Rubem Braga)

Conceituação
A característica mais relevante de uma crônica é o propósito com que ela é escrita. Seu eixo temático é sempre em torno de uma realidade social, política ou cultural. Essa mesma realidade é avaliada pelo autor da crônica e uma opinião é formulada, quase sempre com um tom de protesto ou de argumentação. Por vezes, assume um tom até mesmo sarcástico, no intento de criticar ou revelar as mazelas sociais. A crônica argumentativa é aquela na qual o objetivo maior do cronista é relatar um ponto de vista diferente do que a maioria consegue enxergar.

Características
·         Apresentação do assunto ou controvérsia a ser discutida, normalmente, no início do texto;
·         Tratamento subjetivo do tema, deixando perpassar a sensibilidade e as emoções do cronista;
·         Linguagem criativa e figurada, geralmente de acordo com o padrão culto informal da língua.
·         A crônica argumentativa visa a apresentar a opinião do autor, sem obrigatoriamente buscar convencer o leitor.
·         Exposição de argumentos que fundamentam o ponto de vista do autor;
·         Conclusão surpreendente, criativa, ou conclusão-síntese, que retoma as ideias do texto e confirma o ponto de vista defendido.
                                                                                   Fonte: http://ideiaspraticasparasaladeaula.blogspot.com.br/2013/04/proposta-de-redacao-cronica.html

PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL – Crônica argumentativa
Jovens da periferia, porém vestidos com roupas de marca, ganharam o noticiário nacional e até internacional nos últimos dois meses. O motivo foram os chamados "rolezinhos", passeios por shoppings centers combinados pela internet e que chegaram a reunir mais de mil jovens em uma das ocasiões. O grande movimento chamou a atenção de quem estava no local e dos lojistas que, assustados, chamaram a polícia. A partir de então, começou o debate: afinal, ir ao shopping EM GRUPO é crime? O bando de jovens que se veste de forma parecida e ouve funk nos corredores dos centros comerciais ameaça a segurança de consumidores e lojistas? Assim que ganhou o noticiário, os rolezinhos se tornaram polêmicos. E, ao mesmo tempo, se multiplicaram pelo Brasil. Em alguns casos, a justiça autorizou a proibição dos rolezinhos. Em outros, os shoppings não ganharam o direito de barrar os grupos. Para solucionar o impasse, cogita-se até mesmo levar os rolezinhos para outras áreas.
A PARTIR DA NOTÍCIA ABAIXO, ELABORE UMA CRÔNICA ARGUMENTATIVA SOBRE O TEMA  “ROLEZINHOS”, REVELANDO O SEU PONTO DE VISTA SOBRE ESSA PRÁTICA TÃO DISCEMINADA ENTRE OS JOVENS ATUALMENTE.

Fonte: http://vestibular.brasilescola.com/banco-de-redacoes/
SUGESTÕES
1. Escolha uma situação do seu dia a dia que possa subsidiar seus argumentos.
Siga o roteiro:
- Pense nas personagens, ou seja, nas pessoas do seu dia a dia que farão parte da sua história.
- Pense em um cenário atual, de preferência urbano.
- Lembre-se: o acontecimento que você presenciou é apenas uma inspiração. Você pode inventar alguns trechos e exagerar em outros caso queira deixar seu texto com mais humor.
2. Escreva sua crônica e depois revise a pontuação, prestando atenção na forma de organizar os diálogos. Use períodos curtos em cada parágrafo. 
3. Seu texto precisa ter no mínimo 15 linhas.
4. A linguagem pode ser informal ou padrão – evite a inadequações na ortografia.

Leia os textos abaixo para embasar as suas reflexões. 

1. Shoppings do país se preparam para onda de rolezinhos.

2. Desce a letra - Rolezinho


3. Fantástico - Rolezinho

4. Rolezinho, a profecia do presente
                                                    Por Carlos Castilho em 18/01/2014     
Há 18 anos, o sociólogo italiano Alberto Melucci já dizia em seu livro Challenging Codes (Desafiando os Códigos, sem tradução para o português): “Os movimentos sociais contemporâneos são símbolos de mudanças que ainda não aconteceram... eles [os movimentos] falam antes do seu conteúdo, direção e organização serem conhecidos... são profetas de algo que já está acontecendo mas que não conseguimos identificar” (Challeging Codes, Introduction).
As ideias de Melucci, o primeiro grande teórico das ações coletivas na era digital, tornaram-se palpáveis quase duas décadas depois de terem sido publicadas e são uma evidência chocante de como a nossa imprensa e os nossos governantes foram incapazes de “ler” as mudanças em curso na sociedade. Pedir que os políticos leiam Melucci talvez seja demais, levando em conta a dimensão da cultura da maioria deles, mas os formadores de opinião na mídia não podem ficar reféns da agenda imediatista dos governantes.
O fenômeno do “rolezinho”, que tanta celeuma está provocando na imprensa, é algo previsível há tempos por quem observa o surgimento de ações coletivas sem líderes e nem heróis. Há quase 20 anos já está mais ou menos claro, desde a queda do Muro de Berlim, que o divisor de águas deixou de ser polÍtico/partidário para se tornar cultural. Além disso, a era digital acabou com as fronteiras físicas e reduziu as econômicas, pelo menos no segmento urbano. Por isso, quando os jovens da periferia das cidades invadem os shoppings, eles estão simplesmente seguindo a tendência da nova sociedade sem fronteiras, como prega o anúncio da operadora de telefonia celular Tim. Para quem procura entender as mudanças pelas quais estamos passando, o rolé é algo absolutamente natural e até inevitável.
Quem se assusta e alimenta, na imprensa, a teoria do medo, somos nós que não entendemos ou não queremos entender o que está acontecendo entre os jovens, um segmento social que só agora está rompendo fronteiras como as dos shoppings, descritos pela publicidade como templos de consumo. A classe média se apropriou dos shoppings e os transformou em bunkers da sociedade afluente, achando que as fronteiras econômicas e sociais seriam eternas.
Agora os jovens, que já nasceram na era digital, portanto não têm o mesmo respeito por barreiras como a geração anterior, entram nos shoppings não para comprar, mas para compartilhar o templo do consumo, alegando ter os mesmos direitos ao ar condicionado, praça de alimentação, cinemas e lan houses. O imaginário da classe média os associa a vândalos e aciona imediatamente o gatilho da repressão, o que não resolve o problema, mas aumenta ainda mais o desejo adolescente de derrubar fronteiras.
A imprensa está perdida no meio da polêmica, que na verdade tem um lado só: o da classe média, porque os adeptos do rolezinho não estão nem aí. O território deles é o das redes sociais e da internet. Como a maioria das pessoas que compram e leem os jornais e revistas é da classe média assustada, é inevitável que a mídia se preocupe mais com este segmento social, mas isso leva ao beco sem saída de olhar para trás, ignorando as profecias do presente.
Se a imprensa estivesse consciente de seu papel, ela estaria hoje tentando ajudar seus leitores, ouvintes e telespectadores a entender o que está acontecendo não com base na intensificação do medo e consequentemente da repressão, mas na análise das consequências das mudanças sociais geradas pela era digital. É urgente que a mídia perceba que estamos no meio de uma transição de modelos tão radical quanto a que ocorreu após a invenção da imprensa, seis séculos atrás. Adaptando o famoso bordão da campanha presidencial de Bill Clinton nos Estados Unidos, em 1992, (“It’s the economy, stupid”) para os tempos de rolezinho, teríamos: “É a história, estúpidos”.

5. Os “rolezinhos” e um apartheid à brasileira
                                                                                          Por Wagner Iglecias e Rafael Alcadipani, no GGN
Junto com alguns outros shoppings da capital, o Shopping JK Iguatemi, um dos templos do consumo de luxo em São Paulo, conseguiu uma liminar na Justiça impedindo o “rolezaum” que havia sido marcado pelas redes sociais para acontecer no local neste sábado. As portas automáticas que dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e passaram a ser blindadas por policiais. Houve, ainda, a presença de um oficial de justiça na porta do estabelecimento. Caso o organizador do evento aparecesse e fosse reconhecido, seria conduzido a um distrito policial para esclarecimentos, segundo declarou à Veja SP o oficial de justiça. A situação estapafúrdia foi amplamente divulgada pela imprensa.
Em outro shopping, bem mais popular e localizado no extremo leste da cidade, a PM chegou a usar bombas e balas de borracha. Na prática, o Estado tem usado a força para impedir o sagrado direito de jovens pobres e da periferia de ir e vir. Os chamados “rolezinhos” estão sendo agendados por jovens e adolescentes destes bairros mais distantes por meio das redes sociais, e têm despertado o medo de comerciantes e frequentadores habituais dos shopping centers. Os primeiros rolezinhos aconteceram em shoppings da periferia, e a presença de seguranças e policiais também ocorreu. A ação deste final de semana seria mais marcante, pois fora escolhido um dos shoppings frequentados pela elite paulistana, localizado no caríssimo bairro do Itaim, um dos que mais concentra investimentos públicos e privados em toda a cidade. Vale lembrar que shoppings centeres ocuparam as páginas policiais dos jornais recentemente por suposto envolvimento em esquemas de propina para ter seus projetos aprovados
As portas automáticas que dão acesso ao estabelecimento foram desligadas e passaram a ser blindadas por policiais (Reprodução)
A expedição de uma liminar, embora compreensível sob o ponto de vista daqueles que temiam a chegada de centenas ou milhares de frequentadores, digamos, “diferenciados”, escancara o que todos neste país sabemos mas muito poucas vezes falamos: apesar dos avanços institucionais e legais que o Brasil conheceu desde a redemocratização, alguns brasileiros são mais cidadãos do que outros. Alguns espaços são mais exclusivos do que outros. E o consumo, ainda que cantado em prosa e verso como motor da sociedade e supra-sumo da felicidade e da realização pessoal, não é, evidentemente, para todos. É estranhíssimo ver empresários buscando a ajuda do Estado, ainda que seja para obter uma simples liminar com o objetivo de impedir a diversificação de sua própria carteira de clientes. Afinal de contas, a elite brasileira é capitalista ou não?
Essa garotada que hoje tenta frequentar os shoppings nasceu na década de 1990, quando o discurso neoliberal já era hegemônico em nosso país. Cresceram ouvindo dia e noite que política é ruim e que o sucesso é uma conquista individual. Comprados o tênis de marca, o relógio da moda, o celular de última geração, o rolezinho no shopping é o top da ostentação dos que vem de baixo, da base da pirâmide social. E ai encontram o que? As portas fechadas. A porta na cara da molecada de pele marrom é o outro lado da moeda de um país onde uma boa parte da elite parece ser capitalista somente até a página 2. E que no dia a dia, há séculos, busca se apropriar, de todas as formas possíveis, do Estado, a fim de dirigir suas prioridades. Dos vultosos subsídios a setores empresariais ao eterno chororô contra os impostos, do poderoso rentismo que vive da rolagem da dívida pública aos editais amigos de obras e serviços públicos, da sonegação fiscal à domesticação de partidos e candidatos através do financiamento de campanhas eleitorais.
Fernando Henrique Cardoso talvez estivesse certo nos seus livros e artigos sobre a dependência brasileira: nunca tivemos, em nosso país, amplos setores de elite que trouxessem consigo um projeto de nação, destinado a integrar nos direitos, na cidadania ou sequer no consumo os milhões de despossuídos. Quando muito nossa elites têm um projeto de classe, ou nem isso. Ao longo de séculos boa parte delas contentaram-se em intermediar negócios com os países mais ricos e levar sua parte, e a polícia que se vire para segurar a massa mulata e preta das periferias paupérrimas. Sempre foi assim.
Ao lado dessa ignorância preguiçosa de nossas elites, temos a ignorância adestrada de nossos pobres. Quando se vê um garoto carregando um fuzil no meio de uma favela, de uma coisa pode-se ter certeza: ele não quer fazer a revolução e pôr o sistema abaixo. Pelo contrário, a violência é a forma pela qual pretende acessar e usufruir dos bens materiais que outros jovens conseguem obter por meios legais ou aceitáveis. A garotada pobre que se manda em grupos para os shoppings tem o mesmo desejo. Querem consumir os símbolos de status que de uns tempos pra cá imaginam ser acessíveis a eles também. Ignoram, no entanto, que ao invés dos shoppings muito melhor seria se tivessem acesso a teatros, cinemas, bibliotecas, centros esportivos e de lazer, tão ou mais inacessíveis a eles que estes ocos templos de consumo.
O “rolezinho” demonstra o paradoxo da elite brasileira, que por um lado quer crescimento econômico, mas por outro quer manter os de pele marrom confinados na senzala. A muralha que o “rolezinho” escancarou é formada por uma Justiça muitas vezes conivente com a desigualdade social, fato que se expressa em alguns casos como foi em Pinheirinho e agora nos “rolezinhos”.

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Curso de Graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.

Rafael Alcadipani é PhD em Management Sciences pela Manchester Business School (Inglaterra) e Prof. Adjunto da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.

6. Charges



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